Imagine um local bucólico, pincelado por plantas como vinagreira, celósia, hibisco, crista de galo e até mesmo flores, onde tudo o que é preciso para a subsistência de uma família está disponível, ao alcance da mão. De lá, seguindo direto para a mesa. A imagem é a de um quintal florestal produtivo na Prainha do Canto Verde, no município de Beberibe, mais especificamente no – lugar de sugestivo nome – Condado Ecoturismo. A opção por uma vida plenamente sustentável é uma das ideias que circulam na Feira da Agricultura Familiar e Artesanal Quilombola do 13º Encontro Sesc Povos do Mar, no Hotel Ecológico Sesc Iparana. 

De portas abertas aos visitantes e turistas que queiram se hospedar por lá, a casa, localizada em uma reserva extrativista, é do casal Roberto e Rosiane Lago. Por lá, vigora permanentemente a proposta de estabelecer um resgate às tradições por intermédio das plantas alimentícias ou nutricionais. E mais que isso: disseminar essa cultura aos visitantes do povoado onde vivem 400 famílias. Dez destas, de acordo com Roberto, já replicam esses hábitos. 

“A ideia é plantar tudo junto e misturado, bem natural e orgânico, da vida à vida, tendo o nutricional como base de alimentação, eliminando muitas sequelas da saúde e voltando às antigas tradições que estão se perdendo: dos lambedores, dos temperos, do uso dessas plantas na própria culinária. Fazemos todo o beneficiamento do que nós plantamos. Não trazemos nada de fora, tudo é nosso”, explica.

Roberto acrescenta que, nessa pegada de reaproveitamento total, encontrou o Senac no caminho. “Tia Nilza (Mendonça, consultora de Gastronomia do Senac), que é nossa mestra da culinária, nos deu algumas receitas, e desenvolvemos várias coisas. Hoje a gente tem um trabalho com panificação, com gastronomia, botando as plantas dentro das carnes e os temperos. Acho que é uma ida para o futuro, resgatando essas tradições. Porque o alimento resiliente, nutricional, está todo no chamado mato”, diz, avisando que boa parte dessas receitas são repassadas à toda comunidade do entorno.

Livre de agrotóxicos

Roberto comenta que uma de suas metas de vida é fazer com que as pessoas não precisem ir ao supermercado para obter um simples tempero. E, principalmente, que possam prescindir dos agrotóxicos. “Se uma praga dá numa planta, a gente planta outra. Ela se torna resiliente. É um processo natural, que vale a pena, que nos dá qualidade de vida, uma vida mais simples”, define ele, que, junto com a esposa, Rosiane, comandou uma oficina na programação do DiCumê: Socialização de Práticas Alimentares, nesta quarta-feira, 21, também no Hotel Ecológico Sesc Iparana.

Por isso, opina, é fundamental que haja eventos como o Povos do Mar, “para que possamos mostrar o que a gente faz. Muitos órgãos nos apoiaram, mas o Sesc foi imprescindível, porque nos deu o espaço e a oportunidade de mostrar nosso trabalho e nossa dedicação sócio-ambiental”.

Mais informações: https://www.instagram.com/condado_ecoturismo/