Grupos ciganos da etnia Calon radicaram-se no território cearense há mais de 80 anos, formando comunidades em mais de quarenta cidades. A invisibilidade desta minoria étnica e o preconceito em relação à sua cultura colocam em risco a continuidade dos costumes ciganos, o principal deles, o dialeto chibi, falado por menos de duas mil pessoas e em risco de extinção.
O nome deriva da palavra chibe, que quer dizer linguagem, os homens não-ciganos são chamados de juron e as mulheres jurinha. Esta língua ágrafa não tem registros escritos e é ensinada pelos mais velhos das famílias ciganas, que percebem a perda da identidade nas gerações mais jovens. Por isso, os ciganos Calon das cidades de Caucaia e de Sobral participam no Encontro Herança Nativa, de 26 a 29 de agosto, e debatem “o ensino da língua cigana em sala de aula”.
Francisca das Chagas Cruz, líder cigana da comunidade Sumaré, em Sobral, explica que esta tem sido uma preocupação para seu povo. “Seria bom os jovens saberem o dialeto, os mais velhos querem passar e estamos bastante engajados, temos que ensinar o povo da gente, senão morre esta tradição”, diz ela.
Há cerca de um ano, os povos ciganos do Ceará tem se articulado em todo o estado, eles fundaram a Associação de Preservação da Cultura Cigana do Estado do Ceará (Asprecce), que está fazendo o mapeamento das comunidades e também realizaram o primeiro Encontro das comunidades ciganas há três meses.
No encontro, foram listadas as necessidades de direitos sociais básicos para o povo cigano, entre eles a educação. “Gostaríamos de diminuir o índice de analfabetismo nas comunidades ciganas, dando acesso à educação de qualidade e livre de qualquer estigma e preconceito”, diz o cigano Calon, Rogério Ribeiro, presidente da Asprecce, que conduz o debate sobre “visibilidade e perspectivas para o futuro do povo cigano” no Encontro.
Apoiados pela nova Base Nacional Comum Curricular, que prevê a abordagem de identidades linguísticas, étnicas e culturais nas escolas, os ciganos planejam como a educação pode ser aliada na preservação de sua identidade. Rogério explica que o dialeto cigano é também uma forma de proteção para eles. “Idealizamos uma escola que valoriza a diversidade cultural do Brasil, isso inclui a cultura cigana e sua diversidade étnica. Fazemos parte da história do Brasil,porém muita gente não conhece, queremos a preservação do nosso dialeto próprio, nosso Chibi, nossas danças e rituais” afirma o cigano.
O Encontro Povos do Mar é realizado pelo Sesc, instituição do Sistema Fecomércio, criado e mantido pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo do Estado do Ceará
Serviço
Encontro Sesc Povos do Mar – 22/8 a 26/8
Encontro Sesc Herança Nativa – 26/8 a 29/8
Local: Sesc Iparana Hotel Ecológico (Rua José Alencar, nº 150 – Praia de Iparana – Caucaia-CE)
Informações e programação: http://www.sesc-ce.com.br/povos-do-mar-heranca-nativa/ ou 0800.275.5250/3462.6350