A figura do jangadeiro como inspiração para a obra de Júlio Silveira
O artista cearense faz uso de cores e traços únicos em seu trabalho, que estará presente no projeto Aquavelas, dentro do Povos do Mar
Júlio Silveira é bem enfático quando perguntado sobre o início de sua história pela arte. “Eu acho que nasci artista. Porque nasci ali no (bairro) Jardim América e tive a sorte de estudar no Colégio Piamarta, onde tinha aula de pintura. Então, antes dos anos 1970, eu já estava mexendo com guache, desenho e só depois que eu fui para a tela”, recorda.
Desde cedo, no entanto, o cearense já tinha a noção do que queria ser ‘quando crescer’. “Queria fazer uma coisa diferente: passei na Escola Técnica, conheci outros colegas também que já tinham afinidade com a arte e, quando eu saí da escola, fui trabalhar. Quando foi em 1980, eu disse: Pronto, chega! Agora eu vou ser artista! Vou morrer de fome!”, conta, aos risos, o hoje desenhista e gravurista.
Colecionando diversas exposições, entre individuais e coletivas dentro e fora do Estado, Júlio Silveira – que já presidiu a Associação dos Artistas Plásticos Profissionais do Ceará (AAPPC) – é um artista que, segundo ele próprio, “precisa de elementos para construir a sua história. No caso de alguns outros artistas é o interior, o verde, o mar, aquele mar subterrâneo… Cada um vai por um caminho e a gente pega um pouco daqui, outro dali”, afirma.
Dessa forma, o litoral cearense tem servido de inspiração recorrente para seus trabalhos. “É tão fantástico esse nosso litoral, né! E esse nosso pedacinho (referindo-se à Iparana), ele é tão lindo, tão maravilhoso, que parece que foi um presente que a vida me deu: eu acho bacana essa coisa dos morros querendo invadir o mar, o mar brigando com os morros e as pedras, as casinhas que ficam à beira-mar, as casas de sopé… Tudo isso me inspira”.
Cor e traço marcantes
Tendo na intuição uma das premissas básicas para a elaboração de seus trabalhos, Júlio Siqueira acredita que seja reconhecido no universo da arte por dois motivos: “Eu acho que a cor e o traço porque eu sou muito diverso. Às vezes eu estou com um trabalho muito abstrato, às vezes é minimalista, mas as pessoas sempre me identificam”, conta.
Por vezes, também, o mar e seus elementos entram na temática do cearense, que já acompanha o Encontro Sesc Povos do Mar desde o seu começo. “De vez em quando eu tô pintando a cena do mar, os morros, a praia, a jangada, porque é uma simplicidade que não se repete. A arte, ela tem um brilho muito especial”.
Projeto Aquavelas
“Eu sou muito ruim de preparação, eu deixo fluir”, confessa Júlio Silveira sobre o que irá apresentar no projeto Aquavelas. “Eu pensei em retratar lá na minha vela alguns rostos de jangadeiros porque eu acho que eles têm que ser lembrados. Quando se fala em mar, nós lembramos da jangada, do próprio mar, de uma série de coisas, mas aqueles atores muitas vezes passam despercebidos”.
Quanto ao evento: “É um festival de arte e a gente ter essa cena de 10 trabalhos enormes passeando pelo mar de Fortaleza, né… Isso poucas cidades no mundo têm porque a jangada, em si, já é um estandarte. Ela será um espetáculo, sem dúvida! É uma honra estar com vocês aqui e poder participar desse evento, que é uma troca bacana e agora levando nossa arte pelo mar, pela beira mar. Quantas pessoas não irão ver esse trabalho! Isso não tem dimensão, não tem dinheiro que pague”, reconhece Júlio Silveira.