Povos do Mar Povos do Mar

De ponta a ponta do litoral cearense, a Rede Sesc Povos do Mar encontra tradições, culinárias, danças, cantos, artesanato, desde a margem oeste, em Chaval, até o extremo leste, em Icapuí, convidando as comunidades praianas de 24 municípios a participar do importante projeto de socialização de práticas e saberes. Realizado há uma década, a rede passou a abranger também as serras e sertões.

Ao visitar as famílias nas localidades e identificar o repertório de cada grupo, o Sesc reconhece a relevância da sabedoria popular. Neste projeto, realizado desde 2010, sempre com a coparticipação das comunidades convidadas, a instituição defende o potencial socioeducativo do convívio entre pessoas de diversas origens.

Povos do Mar reconhece, valoriza e difunde práticas comunitárias de associativismo, assim como as relações colaborativas e de reciprocidade entre as pessoas, coletivos e comunidades, evidenciando as relações de afetividade, de circunvizinhança, fortalecimento de processos identitários e identificação de memórias.

O Povos do Mar é realizado pelo Sesc, instituição do Sistema Fecomércio, criado e mantido pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo do Estado do Ceará.

HERANÇA NATIVA

Encontro das expressões socioculturais dos povos originários do Ceará, o Encontro Herança Nativa aproxima povos indígenas, ciganos, quilombolas, comunidades sertanejas e serranas em um coletivo que valoriza a memória social, preserva a própria cultura e motiva outros povos a também reconhecer suas origens.

A cada ano, são identificadas novas expressões da cultura tradicional do Ceará, acolhidas nesta rede motivada pelo Sesc e que guarda imensurável patrimônio cultural do estado.

Essa ação do Sesc também busca a difusão de grupos que transmitem e desenvolvem práticas históricas de longa duração, como o canto, a dança, a música, a espiritualidade, o cultivo e a alimentação, de modo que amplia os horizontes, alarga os repertórios, produz aprendizagens significativas e constrói sentidos plurais e amplos.

O Herança Nativa é realizado pelo Sesc, instituição do Sistema Fecomércio, criado e mantido pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo do Estado do Ceará.

10 ANOS - EXPOSIÇÃO AQUAVELAS

Nos 10 anos do Povos do Mar, o Sesc convida 10 artistas plásticos para homenagear, através das suas estéticas e artes, as comunidades litorâneas e proporcionar à população de Fortaleza experiências estéticas que valorizam nossa cearensidade.

Artistas
Edmar Gonçalves

Vivência com povos do mar inspira Edmar Gonçalves no Aquavelas

Com emoção e entusiasmo, o artista fala sobre o seu talento, sua arte e a forte ligação com os povos do mar

 

Artista plástico, também cantor e compositor cearense, Edmar Gonçalves é um dos 10 nomes convidados para abrilhantar o projeto Aquavelas, que será lançado no dia 6 de dezembro, das 8h30 às 13h, com uma regata, partindo do Mucuripe até a Barra do Rio Ceará.

Cearense de Juazeiro do Norte, o artista associa sua infância de criança livre com brincadeiras que interagiam com a própria natureza, ao seu despertar criativo. “Na minha época, no interior do Estado, não tínhamos a tecnologia que a criançada tem hoje, por isso nossas brincadeiras eram bem criativas e usávamos as ferramentas da própria natureza para nos divertir, abrindo um espaço para mais sensibilidade e percepção”, recorda Edmar, que teve suas primeiras aulas de arte em Sobral, onde a família passou a residir, com a professora Dona Florinda: “Ela me ensinou as primeiras noções de cores, luz e sombra”.

Com a vinda da família para Fortaleza, Edmar expandiu o seu talento e passou a frequentar o “Salões dos Novos”, uma galeria/espaço para artistas que se localizava embaixo da Praça do Ferreira. “Essa galeria nos proporcionava o convívio com outros artistas e nos abria espaço para a comercialização de nossas obras. Em minha primeira exposição, vendi um quadro em dólar para um estrangeiro, foi uma experiência incrível”, ressalta Edmar Gonçalves.

Projeto Aquavelas

Para esse dia especial na praia, Edmar revela estar bastante inspirado: “O pescador me encanta, minha ligação com o mar é muito forte. Morei em Camocim e adorava observar esse movimento na praia. Os mestres canoeiros chegavam muito cedo e já iniciavam aquele ritual, sem precisar trocar palavras um com o outro, porque já assumiam os seus papéis, como se fosse uma verdadeira missão”, ressalta com encantamento ao recordar o momento.

Edmar também exalta uma prática especial na praia de Camocim, quando os pescadores retornavam com peixes e as pessoas da comunidade, os povos do mar, chegavam junto para trocar mercadorias por peixes, um verdadeiro escambo natural, com frutas, carnes… “Eles se entendiam e os pescadores sempre tinham peixes extras, já separados para doação àqueles que nada tinham para trocar, muito bonito de se ver”.

Segundo Edmar Gonçalves, no Aquavelas ele vai buscar passar todo esse sentimento. “Vivo e sobrevivo da emoção do outro, tenho um diálogo com o outro através da arte. E é isso que quero expressar no Aquavelas, que é um projeto muito especial por retratar a vivência dos povos do mar pelo olhar do artista, sem instigar a disputa, a concorrência, sendo uma ação espontânea e de alma. Poder fazer parte desse momento, a partir de nossa percepção como artistas sobre o mar e tudo o que ele representa aqui no Ceará, é muito forte. Me sinto honrado em participar desse projeto tão lindo, que ressalta a cultura do Ceará seja na gastronomia, na feitura do artesanato, nas danças, no costumes, histórias e tradições”, finaliza.

Artistas
Mano Alencar

Pinturas de Mano Alencar têm 

grande influência do litoral e do sertão

O artista cearense é um dos convidados do projeto Aquavelas, dentro da programação do Povos do Mar

 

O improviso é o seu grande aliado no processo criativo. Com 30 anos de carreira, estar em frente a uma tela em branco, para o artista plástico Mano Alencar, não é exatamente um desafio, mas uma oportunidade de se surpreender com a própria arte. Cearense, natural de Juazeiro do Norte, Mano Alencar é um dos integrantes do projeto Aquavelas, dentro da programação do Povos do Mar do Sistema Fecomércio-CE, que tem como objetivo promover a visibilidade e a valorização das comunidades litorâneas.

Mano Alencar também é poeta, compositor, desenhista e escultor; como ele resume, é um artista que vê arte em todos os lugares. “É como se o artista vivesse todo o tempo inspirado. Estou sempre pintando na cabeça, escrevendo na cabeça, vivo com esse motor ligado; vejo arte em tudo”, pontua.  

 Na sua concepção, o ser humano não se torna artista, ele nasce. “O artista já nasce com o dom, mas se descobrir artista já é outra história. Todos nós temos a sensibilidade que é inerente aos seres humanos, e me descobri artista muito cedo, acho que com oito, nove anos já tinha essa inquietude que o artista tem, que nos é peculiar”, conta.

Estilo de se expressar

Mano começou sua trajetória artística com trabalhos figurativos, mas se encontrou mesmo no estilo expressionismo abstrato, atendendo, segundo ele, uma necessidade de expressar com mais velocidade e emoção as suas alegrias, angústias e dúvidas. “Por isso gosto tanto do meu estilo porque jogo para a tela toda a emoção, independente do meu estado de espírito”, confessa.

 Filho da Chapada do Araripe, Mano Alencar saiu do Cariri e faz morada em Fortaleza desde 1974. Talvez por isso o artista diz que tanto o mar quanto o sertão compõem sua arte – influência, segundo ele, muito presente nas cores intensas que ele coloca nas telas. “Minhas obras são uma explosão de cores”, define.

Projeto Aquavelas

É toda essa influência que o artista vai levar para o projeto Aquavelas, uma exposição coletiva sobre as águas salgadas da capital alencarina, com velas pintadas por artistas plásticos cearenses, dando todo um colorido na orla de Fortaleza, desde a Enseada do Mucuripe até o Rio Ceará.

“Um projeto desse é encantador, sedutor para nós artistas que gostamos de desafios. Pintar numa vela é muito bacana”, destaca, afirmando que essa iniciativa do Sistema Fecomércio destaca e valoriza os artistas locais.  “Numa época dessa, em que os artistas estavam precisando de uma força, o Sistema Fecomércio chega e resgata todo mundo, dá a mão pra todo mundo, abrilhantando a carreira de todos”.

Artistas
Almeida Luz

A arte de rua ganha destaque na pintura em velas

No projeto Aquavelas, o artista cearense Almeida Luz vai contribuir com sua arte de rua, reunindo sensibilidade e muita criatividade 

 

Com sua arte de rua, Almeida Luz já é reconhecido em Fortaleza e em outras capitais internacionais com um trabalho que vem realizando há 12 anos. “Desde criança me descobri um artista, gostava de desenhar e pintar e, com o tempo, essa arte foi criando forma, foi tendo vida”, recorda o artista.

Almeida Luz é um dos artistas convidados a participar, neste ano de 2020, do projeto Aquavelas, exposição coletiva inspirada na cultura do litoral cearense, que compõe a programação do Povos do Mar. Mas a ligação de Almeida Luz com o mar é natural. “Sou surfista e vivencio essa energia constantemente. Acordo cedo para surfar e observo o nascer do sol, o jogo de cores que esse momento propicia, toda essa magia do sol com o mar e isso influencia o meu processo criativo”. 

Em suas buscas por inspiração, sempre como um observador da vida, dos movimentos e comportamentos, o artista ressalta a beleza da natureza estampada em cores e formas: “Icapuí tem areias coloridas que me chamam atenção, gosto das imagens que o mar me proporciona, as embarcações, como barcos e as jangadas do Mucuripe, as cores, os peixes, tudo isso faz parte da minha arte, são fontes inspiradoras”, declara.

Para ser um artista de rua é preciso estar envolvido com a rotina da cidade, o comportamento das pessoas, a energia que tudo isso desperta: “Sou um grande observador do cotidiano, observo tudo o que acontece em minha rua, em meu bairro, na cidade, trago tudo isso para a minha arte. Em minhas composições de rua, adiciono ícones que me chamam atenção e que me sensibilizam. Vejo a rua como uma grande galeria e nem peço permissão para entrar, já vou me apropriando e começo a criar”. 

Projeto Aquavelas

Com experiências em exposições e festivais ao redor do mundo, Almeida Luz vai nos presentear com a sua arte no Projeto Aquavelas. “Para esse projeto vou levar cores, textura, minha energia e a pegada da minha arte de rua. Para isso, já preparei alguns croquis e estudos em cima do que observo no meu cotidiano e que captei para essa proposta. Vejo as jangadas como grandes telas que me inspiram. Participar desse projeto é uma grande oportunidade de contribuir com a minha arte, de praticar a gentileza urbana, abrindo espaço para dialogar com as pessoas”, finaliza o artista.

O projeto Aquavelas é uma exposição coletiva sobre as águas salgadas da capital alencarina, com velas pintadas por artistas plásticos cearenses, dando todo um colorido na orla de Fortaleza, desde a Barra do Ceará até o Mucuripe.

Artistas
Bia Soares

Bia Soares apresenta suas vivências e estudos de arte no Aquavelas

A partir de sua relação com o mar e a terra-natal, a artista participa do projeto, dentro dos 10 anos do Povos do Mar 

 

O gosto pelas telas, cores e arte de um modo geral acompanham Bia Soares desde pequena. “No colégio, eu me lembro que, se tinha algo que eu conseguia focar, era no desenho! Eu gostava daquilo e acho que meus pais notaram e passaram a estimular de todas as formas ao perceberem que eu gostava de desenhar”, relembra a cearense, que já morou fora do País e teve, segundo ela, a oportunidade de se aproximar de museus, ateliês e artistas que atualmente norteiam sua trajetória.

Uma das convidadas a compor o elenco do projeto Aquavelas, dentro da programação de 10 anos do Sesc Povos do Mar, a artista – que já marcou presença em mostras e eventos de renome, como a CowParade e a CasaCor – irá colocar suas referências na composição de mais uma obra, desta vez tendo o mar como inspiração. “No meu trabalho, eu gosto de manter viva essa ideia da cultura e de onde eu vim. Gosto de comunicar isso, de atrelar o meu trabalho às minhas raízes também”, explica.

As pesquisas de Bia Soares, no entanto, encontram sua base para além da vivência propriamente dita. “Agora que eu estou na Faculdade de Belas Artes, eu busco explorar várias áreas: escultura, fotografia, edição de imagem… E conhecer pessoas de outras áreas é muito importante. Beber de diversas fontes também é muito importante”, reforça a artista, que explicita sua ligação com o mar e a terra-natal.

“Nós, que somos cearenses, a gente cresceu na praia, no mar, e esse cenário é lindo. O mar, pra mim, traz uma sensação de liberdade, de pertencimento, de casa. E nessas horas é que eu sinto como sou privilegiada de tê-lo em qualquer época. Então meu trabalho sempre vai ter algo relacionado ao Ceará porque eu sou muito feliz em ser cearense. Tenho muito orgulho da minha terra e da minha cultura”, afirma.

Projeto Aquavelas

A expectativa da artista em participar do projeto é visível. “Estou muito entusiasmada, muito animada e espero fazer uma obra que crie um interesse, uma curiosidade, que mostre um pouco a minha personalidade, o meu traço como artista, e que realmente possa enaltecer ainda mais os elementos tão fortes da nossa cultura, como a jangada e o próprio litoral”, afirma Bia, deixando em suspense o que irá mostrar aos visitantes da exposição a céu aberto.

“Eu ainda estou trabalhando num processo criativo. E esse processo, antes da gente criar, é muito bom porque eu acabo aprendendo muita coisa que eu nunca saberia antes, como a questão do jangadeiro, das jangadas, que têm todo um fator histórico. Eu espero levar a minha visão como artista e, ao mesmo tempo, a minha relação com o Ceará e poder conversar com as pessoas pra saber a reflexão delas”, concluiu.

 

Artistas
Efigênia Coelho

Efigênia Coelho carrega o mar e a artesania cearense como suas inspirações

A artista é uma das convidadas do projeto Aquavelas, dentro da programação de 10 anos do Sesc Povos do Mar

 

Nascida na cidade de Gurupi, ao sul do Tocantins, Efigênia Coelho se reconhece nas artes plásticas desde a adolescência, tendo na intuição um de seus recorrentes alicerces. “Eu coloco a tela e a coisa vai saindo naturalmente, não programo nada. Amo a pintura tom sobre tom, sou apaixonada pelo azul, esse azul mais puxado para o mar. Quando estou meio chateada por alguma coisa, dou um mergulho e já volto renovada”, revela ela, que já fez morada em Brasília, Paraná, Estados Unidos e, há 17 anos, fixou-se na capital cearense.

Uma das convidadas a participar do Aquavelas, projeto que integra a edição de 10 anos do Sesc Povos do Mar do Sistema Fecomércio-CE, Efigênia terá no mar de Fortaleza a inspiração para traduzir em traços uma das velas que farão o percurso da Enseada do Mucuripe à Barra do Ceará. “O mar me inspira bastante, a maresia, o pôr do sol, tudo isso faz bem pra alma. E o mar de Fortaleza não tem igual. Esse projeto vai dar um ar de curiosidade e de mistério ao mesmo tempo, além de toda a criatividade. Vai ser lindo de morrer”, aposta.

O azul e seus vários tons

A cor azul, característica de seus trabalhos mais recentes, tem um significado todo especial para ela. “Eu comecei a trabalhar muito com ela depois que a minha filha nasceu. Eu acho gostoso trabalhar com essa tonalidade, do branco, lilás e o azul, é uma coisa natural pra mim. Na pandemia, andei pintando umas coisas mais escuras, talvez pelo momento, porque o mar acalmaria. Eu sou apaixonada pela natureza”, confessa a artista, que já deu aulas de pintura e ainda passeia por outras áreas, como a literatura e a arquitetura.

Do Nordeste, Efigênia admira sobretudo o trabalho dos artesãos. “Eles são, de fato, verdadeiros artistas. O trabalho com as areias coloridas que eles fazem é de uma grande preciosidade. As rendeiras também, que é um negócio trabalhoso fazer, muito delicado, tem que ser artista para saber fazer. Quando você vê aquele cara que está ali, dia após dia tentando vender o seu trabalho, você acaba se inspirando. É um trabalho abençoado”. 

Projeto Aquavelas

A artista, apesar da experiência, considera o Aquavelas mais um desafio em sua trajetória. “Eu pinto muito comigo mesma, sozinha, mas achei esse projeto divertido porque vamos estar todos lá, trabalhando no mesmo ambiente, com trocas de conhecimento, a gente vai se inspirar juntos. Eu acho que vai trazer mais alegria, algo diferente vai surgir dali”. 

Sobre sua presença no Encontro, Efigênia Coelho finaliza e antecipa: “Vocês vão se surpreender com a qualidade dos artistas que vão participar. Estamos fazendo de coração, com muita alegria, para que o olhar das pessoas fique mais colorido. Essa experiência vai agregar na minha carreira artística, assim como vai agregar para a Cidade, que vai ganhar um presentão desse”.

Artistas
Vando Farias

Vando Farias apresenta sua colorida arte naïf no projeto Aquavelas

Dentro da programação de 10 anos do Sesc Povos do Mar, o cearense irá prestar ainda uma homenagem aos pescadores

 

Marcada por traços simples, porém firmes e cheios de colorido e representação, a arte conhecida como naïf (do francês, “ingênuo”) tem sido o porto seguro dentro da trajetória de Vando Farias, que já contabiliza 18 anos. Cearense, o artista faz uso de referências locais, tanto do mar quanto do sertão, para dar vazão a quadros em acrílica sobre tela que já participaram de diversas exposições individuais e coletivas pelo Estado.

“Por ser um fortalezense nato, isso é muito pulsante na minha arte. Está enraizado. Nas minhas pinturas, nos meus trabalhos, tem sempre essa ênfase do mar, da praia, do pescador, do alimento da praia, que é tão rico e é uma coisa que une um todo”, resume ele, que levará um pouco de seu universo particular para o projeto Aquavelas, dentro da programação que celebra os 10 anos do Sesc Povos do Mar.

O Encontro, aliás, tem caminhado junto com a história do próprio artista. “Desde o começo que participo do Povos do Mar e tem sido uma experiência, mas também uma satisfação em retribuir com quem chega para essa troca de ideias e experiências”, destaca. Dentre os temas mais recorrentes, o mar e os elementos/personagens do Nordeste, em particular do Ceará, têm sido grandes companheiros.

Relação com o mar

“Da nossa cultura cearense, o jangadeiro é um elemento, o mar é outro… A criação dos meus personagens é muito própria. Eu também abordo toda a vida marinha, a coisa do índio, do nordestino, do vaqueiro”, sintetiza Vando, que chegou a residir na praia de Guajiru por um período de 12 anos e conviver com vários mestres pescadores, estreitando ainda mais a sua relação com o mar.

“Essa é uma praia que me fascina e é uma das minhas inspirações, assim como a nossa querida e amada Fortaleza. Sei de várias histórias que remetem a essa minha relação, já fui dono de jangada, mas a que eu estou mais encantado é a minha própria filha, Inaê (outro nome dado a Iemanjá, orixá considerada ‘rainha do mar’).  

Projeto Aquavelas

Durante a execução de sua pintura, Vando Farias irá prestar ainda uma homenagem aos pescadores. “Como eu costumo dizer, eu não paro pra fazer arte, a arte é que me para. Mas o que eu posso adiantar é que será uma obra totalmente dedicada ao Povos do Mar. Nesse momento tão difícil que a gente tá passando, o mar é Jesus, o mar é mãe… A gente mora no ‘planeta água’, né! O mar provê, é sagrado”, constata.

O cearense finaliza com um chamado aos apreciadores do projeto: “O meu convite é que as pessoas vão lá, aproveitem esse trabalho e reconheçam o Sesc e os artistas. Esse trabalho do Sesc é tão gratificante, que vai unir e ser uma troca de sensibilidade enorme porque a gente se inspira e sente a obra do outro. A gente sempre sai renovado desses projetos”, conclui Vando.  

Artistas
Totonho Laprovitera

Vivências pessoais são referências na trajetória de Totonho Laprovítera

O projeto Aquavelas, dentro dos 10 anos do Povos do Mar, recebe o arquiteto, urbanista e artista cearense 

 

Totonho Laprovítera tem nas artes plásticas uma ligação que o acompanha bem antes de sua formação acadêmica. “Eu me descobri artista acho que quando eu me descobri como gente mesmo. Sempre digo que nasci artista e depois me formei arquiteto. Mas nunca dividi as coisas: sempre misturei muito a arte com a minha vida pessoal”, conta ele, que já completou 45 anos de trajetória nessa área.

O cearense, que atualmente possui obras que integram acervos locais importantes como da Fundação Edson Queiroz e Museu de Arte da UFC, bem como coleções particulares fora do Estado e até do País, iniciou nas artes na Casa de Cultura Raimundo Cela, no início dos anos 1970. “Comecei a expor e nunca mais parei”, resume ele, que reconhece no cotidiano do povo cearense alguns elementos para seu trabalho.

“No nosso processo criativo, no nosso fazer artístico de um modo geral, nós somos muito favorecidos pela luz. A nossa luz contribui pra gente ter um olhar mais apurado, uma percepção não só de cores e formas, mas também de sentimentos. Mas o elemento mais forte da nossa cultura somos nós, o povo, e isso daí, pela minha vivência e minhas pesquisas, eu sempre traço paralelos de significados”, explica.

Sol e praia que inspiram

Para Totonho, as cores do céu do Ceará também o inspiram, “desde o nascer do dia, com aquele amarelo reluzente, até a última cor que o sol irradia, que é violeta”. Resultado dessas referências, sobretudo pessoais, foi uma série do artista dedicada ao Mucuripe. “É uma série que tem tudo a ver com a minha vida porque eu fui batizado, na vida mesmo, aos dois meses de idade, no mar. Eu acho que isso impregnou no meu espírito esse amor”, destacou.

A Praia de Iracema seria outro local que influencia o artista. “Tem tudo a ver porque é um lugar muito forte para o cearense e os artistas, não só a paisagem natural, mas também a edificada, a Ponte dos Ingleses… A ambiência é propícia à muita arte”, diz Totonho que, ao lado de outros nove artistas, será destaque dentro do Aquavelas, projeto inserido nos 10 anos do Encontro Sesc Povos do Mar.

Aquavelas

No projeto, o artista promete dar a sua cara a uma das velas da exposição. “A minha arte, eu não faço nada que não tenha a ver comigo. Qualquer traço meu tem uma história, tem as minhas vivências, os meus olhares, as minhas cenas, sonhos. Eu acredito muito que tudo na vida a gente possa fazer com arte. E não precisa ser artista pra produzir arte. Cada ofício que a gente tenha, no mínimo, nós vamos ter um mundo bonito e, eu acredito, que mais justo”.  

Quanto ao Aquavelas, Totonho Laprovítera arremata: “Quero agradecer pela oportunidade de participar do projeto, dizendo que mais importante do que a arte e o fazer artístico é a vida, né! Cai muito bem com essa proposta que fala do mar porque a vida vem do mar. Então isso mexe muito com a essência da gente e também do que a gente pensa da arte como instrumento de organização social”.

Artistas
Júlio Silveira

A figura do jangadeiro como inspiração para a obra de Júlio Silveira

O artista cearense faz uso de cores e traços únicos em seu trabalho, que estará presente no projeto Aquavelas, dentro do Povos do Mar 

 

Júlio Silveira é bem enfático quando perguntado sobre o início de sua história pela arte. “Eu acho que nasci artista. Porque nasci ali no (bairro) Jardim América e tive a sorte de estudar no Colégio Piamarta, onde tinha aula de pintura. Então, antes dos anos 1970, eu já estava mexendo com guache, desenho e só depois que eu fui para a tela”, recorda.

Desde cedo, no entanto, o cearense já tinha a noção do que queria ser ‘quando crescer’. “Queria fazer uma coisa diferente: passei na Escola Técnica, conheci outros colegas também que já tinham afinidade com a arte e, quando eu saí da escola, fui trabalhar. Quando foi em 1980, eu disse: Pronto, chega! Agora eu vou ser artista! Vou morrer de fome!”, conta, aos risos, o hoje desenhista e gravurista.

Colecionando diversas exposições, entre individuais e coletivas dentro e fora do Estado, Júlio Silveira – que já presidiu a Associação dos Artistas Plásticos Profissionais do Ceará (AAPPC) – é um artista que, segundo ele próprio, “precisa de elementos para construir a sua história. No caso de alguns outros artistas é o interior, o verde, o mar, aquele mar subterrâneo… Cada um vai por um caminho e a gente pega um pouco daqui, outro dali”, afirma. 

Dessa forma, o litoral cearense tem servido de inspiração recorrente para seus trabalhos. “É tão fantástico esse nosso litoral, né! E esse nosso pedacinho (referindo-se à Iparana), ele é tão lindo, tão maravilhoso, que parece que foi um presente que a vida me deu: eu acho bacana essa coisa dos morros querendo invadir o mar, o mar brigando com os morros e as pedras, as casinhas que ficam à beira-mar, as casas de sopé… Tudo isso me inspira”.

Cor e traço marcantes

Tendo na intuição uma das premissas básicas para a elaboração de seus trabalhos, Júlio Siqueira acredita que seja reconhecido no universo da arte por dois motivos: “Eu acho que a cor e o traço porque eu sou muito diverso. Às vezes eu estou com um trabalho muito abstrato, às vezes é minimalista, mas as pessoas sempre me identificam”, conta.

Por vezes, também, o mar e seus elementos entram na temática do cearense, que já acompanha o Encontro Sesc Povos do Mar desde o seu começo. “De vez em quando eu tô pintando a cena do mar, os morros, a praia, a jangada, porque é uma simplicidade que não se repete. A arte, ela tem um brilho muito especial”.

Projeto Aquavelas

“Eu sou muito ruim de preparação, eu deixo fluir”, confessa Júlio Silveira sobre o que irá apresentar no projeto Aquavelas. “Eu pensei em retratar lá na minha vela alguns rostos de jangadeiros porque eu acho que eles têm que ser lembrados. Quando se fala em mar, nós lembramos da jangada, do próprio mar, de uma série de coisas, mas aqueles atores muitas vezes passam despercebidos”.

Quanto ao evento: “É um festival de arte e a gente ter essa cena de 10 trabalhos enormes passeando pelo mar de Fortaleza, né… Isso poucas cidades no mundo têm porque a jangada, em si, já é um estandarte. Ela será um espetáculo, sem dúvida! É uma honra estar com vocês aqui e poder participar desse evento, que é uma troca bacana e agora levando nossa arte pelo mar, pela beira mar. Quantas pessoas não irão ver esse trabalho! Isso não tem dimensão, não tem dinheiro que pague”, reconhece Júlio Silveira.

Artistas
Zé Tarcisio

Das conexões entre céu e mar, Zé Tarcísio leva seu estilo para o Aquavelas

Veterano das artes no Estado, o cearense é um dos destaques do projeto, dentro da celebração de 10 anos do Povos do Mar 

 

Zé Tarcísio já contabiliza seis décadas dedicadas à arte no Ceará e, de acordo com ele, um dos fatores que justificaria esse feito seria a teimosia. “Pra ser artista, tem que ser teimoso e acreditar na arte. E eu acredito, eu gosto de desenhar, é prazeroso desenhar. Eu agradeço à Divina Providência essa coisa que veio comigo pra ser um artista e o desenho ser o primeiro passo de um trabalho porque é muito prazerosa essa profissão”, constata.

Nascido em Fortaleza, no ano de 1941, Zé Tarcísio é muitos em um só: além de pintor e escultor, abraça as áreas da cenografia e do figurino, é gravador, artista intermídia. Premiado dentro e fora do País, o cearense relaciona seu trabalho também com a proximidade que tem com o mar. “Sou do litoral e nós temos o mar aqui tão pertinho, né! O meu trabalho tem uma imbricação direta com o mar”, sintetiza ele, que possui no currículo uma série chamada S.O.S. Litoral (1979).

‘Pintura política’

Para além das cores, formatos e estilo próprios, o trabalho de Zé Tarcísio reflete, sobretudo, as mazelas da sociedade. “Eu não sou um artista conformado. Eu uso a arte também pra dizer a minha posição política”, afirma. Das paisagens locais que o inspiram na vida e na arte, está o litoral de Aracati. 

“Me chamou a atenção já há muitos anos. Aquela parte de Canoa Quebrada, eu fui uma das primeiras pessoas que chegou lá e viu aquela beleza, teve contato com o povo… Então ainda é um sentimento muito forte em mim”, reconhece o artista, que também faz uso da figura do ser humano e das pedras para a elaboração de seus trabalhos.  

Projeto Aquavelas

Acompanhando o Povos do Mar desde o seu início como público, o artista – que já assinou a curadoria da Mostra Sesc de Arte Naïf – será agora um dos convidados do projeto Aquavelas, que irá colorir velas na orla de Fortaleza, da Barra do Ceará à praia do Mucuripe, na companhia de outros nove nomes da área. A ideia do trabalho, sem adiantar muita coisa, trará uma conexão entre o céu e a figura do jangadeiro.

Sobre a celebração de 10 anos do Povos do Mar e o Aquavelas: “É um momento muito significativo pra se comemorar. O projeto é muito lindo, que traz pessoas de todo o nosso litoral, que se reúnem para uma grande festa com o povo e as coisas do mar. É lindíssimo! Cada artista tem uma linguagem e isso junto dá uma coletiva fantástica. Eu tô imaginando já como vai ser esse momento e já estou começando a treinar”, conclui. 

Artistas
Andréa Dall’Olio

A assinatura de Andréa Dall’Olio vai brilhar na arte em velas

O dourado e arte manual serão marcas fortes da artista e arquiteta cearense no projeto Aquavelas

 

A arte e o talento de Andréa Dall’Olio estarão presentes no projeto Aquavelas, dentro da programação de 10 anos do Encontro Sesc Povos do Mar, que acontece no período de 6 a 11 de dezembro.

“Ser escolhida para fazer parte de um projeto tão importante para a cultura cearense, como o Povos do Mar, é um reconhecimento à minha produção. Tenho orgulho de ser uma artista cearense e essa oportunidade me proporciona uma maior ligação com a produção coletiva no Ceará, o que nos influencia positivamente. Também vejo como uma oportunidade de mostrarmos a força da arte cearense, diversa, múltipla e com linguagem rica e de incrível potencial. Para mim, esse convite é uma grande satisfação”, declara a artista.

Tudo começou…

O despertar de Andréa Dall’Olio pelas artes começou bem cedo, quando ela tinha apenas 5 anos e já gostava de assistir a programas de arte. Aos 13 anos, ingressou em seu primeiro curso. Já na época do vestibular, Andréa percebeu que o melhor curso para agregar à sua arte seria a Arquitetura, já que não havia curso específico de Belas Artes, o qual realmente gostaria. “Hoje transito entre a arquitetura e as artes. Não consigo ficar somente na pintura, gosto da experimentação, converso com suportes e a manualidade é muito forte em minha produção, como tecelagem manual, bordados, gravuras. A minha paleta transita entre o barroco e abre para as cores da paisagem no Ceará. As texturas vêm muito fortes da arquitetura e são bem marcadas em minha produção”, ressalta.

Projeto Aquavelas

O mar sempre esteve presente nas obras de Andréa, que costuma frequentar a praia do Cumbuco, no litoral Oeste do Ceará. “Quando chego próximo ao mar, gosto de observar o movimento das ondas, a energia que emana, a luz do sol que incide nas águas, o movimento dos pescadores”.

Com a pandemia e, consequentemente, o período de restrição de saídas de casa, Andréa confessa ter sentido muitas saudades do mar, fator que a influenciou, ainda mais, a trazê-lo para suas obras. “Quero trazer essa energia do sol, dos dourados e a força do mar nessa proposta do Aquavelas”, enfatiza. 

Entre suas obras, no momento, Andréa destaca a série Marinhas, trabalho em tapeçarias com paisagens litorâneas. “Essa obra vai dialogando, sendo construída a partir de cada batida do tear. Quero passar sentimento, expressões, nada de hiper-realismo, quero despertar o sentimento no outro por meio de abstrações”. 

Para o dia 6/12, a artista ressalta que o dourado, sua assinatura original, estará bem presente em sua arte, além da arte manual. “Vejo esse momento como uma grande festa da arte, da cultura. Poder fazer parte disso tudo, junto com outros artistas, é fazer parte de um processo construtivo de um evento inesquecível”, finaliza.