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De renda extra a profissão – Histórias de Artesãs Cearenses
De renda extra a profissão – Histórias de Artesãs  Cearenses

Embaladas pelo vai e vem das correntezas, as caravelas portuguesas trouxeram a arte do artesanato ao Ceará, em suas mais ricas formas de expressão. Renda de bilros, labirinto, croché e bordados, todos os estilos passaram a fazer parte do cotidiano das mulheres do nosso litoral. Não se sabe ao certo como essa cultura se popularizou. De fato, enquanto os homens partiam nas jangadas para buscar o sustento, esposas, mães e filhas ficavam na praia, tecendo a paisagem nos panos para complementar a renda familiar.

A cadência do ritmo e o estilo das agulhas varia ao longo do litoral. Do labirinto de Aracati até o crochê de Jericoacoara, a artesania típica de cada localidade tem uma coisa em comum: deixou de ser uma renda extra para se tornar uma profissão. Organizadas em associações, as mulheres ganham força, trocam experiências e aperfeiçoam métodos de trabalho, de olho nas novidades da moda e no gosto da freguesia.

Com o tempo, as peças, formatos e cores mudaram. Antes focadas em artigos de casa, como panos de prato, toalhas e centro de mesas, agora ganham a passarela. Peças de vestuário dos mais variados estilos já estão sendo produzidas e nas cores da estação. O tradicional artesanato ganha novo estilo, entrando na era da globalização.

É o que conta a artesã Antônia Janiele da Silva, secretária da Associação das Crocheteiras Mundo Jeri. Aprendendo o crochê com a mãe e a avó, enquanto o avô ia para o mar, hoje se une com mais 17 mulheres para produzir e vender peças para os lugares mais longínquos. “Nós mandamos pro mundo inteiro: Estados Unidos e Argentina, por exemplo. Temos modelos diferenciados conforme a coleção, criada por nós mesmas, mas de acordo com a moda lá de fora. Usamos a internet para nos atualizar e produzimos peças que você só encontra aqui”, explica. Entre as mais procuradas, cita os chapéus, blusas e saídas de banho.

O tempo de produção varia de acordo com a peça e a técnica usada. No labirinto, uma das modalidades de artesanias mais trabalhosas, há uma desconstrução dos fios, que são desfiados e novamente entrelaçados, formando uma trama têxtil sobre a grade de tela. Arte que a mestre Selma Maia aprendeu também com a mãe, aos 5 anos de idade e que até hoje é fonte do seu sustento em Majorlândia. “Meu pai era pescador e minha mãe ajudava ele produzindo e vendendo peças de labirinto. Aprendi com ela, mas agora sou eu quem a ensino”, comenta.

Aos 82 anos, a mãe de Selma aprende com a filha as novas técnicas, que mudaram ao longo do tempo para atender a demanda dos clientes. A moda influenciou a produção de novas peças, reunindo gerações. “Tenho clientes de São Paulo que compram nossas peças e, a partir delas, produzem vestuário customizado, levando nossa cultura pro mundo todo”, afirma.

 

RENDA DE BILROS:

É confeccionada sobre uma almofada coberta de tecidos e ser presa num suporte de madeira, sendo a base para o trabalho dos artesãos. Os bilros são feitos de madeira, com uma pequena cabeça nas extremidades, por onde passa a linha para execução do trançado. Eles são utilizados geralmente em pares, trançados em e diversos tipos de pontos. Das rendas de bilro são confeccionados, blusas, toalhas de banhos, passarelas, toalhas de mesas, vestidos e uma infinidade de outras peças. É muito encontrada em Trairi.

LABIRINTO:

É um tipo de bordado feito do desfiamento e entrelace de fios sobre tela, formando uma teia com parte do tecido que ficou preservado, formando meandros e figuras alongadas semelhante às paredes de um labirinto. As imagens bordadas ilustram representações complexas de flores, folhas ou formas em arabesco, principalmente.

CROCHÉ:

É uma artesania feita com uma agulha específica, que possui um gancho na extremidade. Consiste em produzir um trançado com os fios para formar peças de vestiário ou de decoração, sendo muito versátil por permitir uma grande variadas de formas e texturas.

BORDADOS:

É uma técnica de costura que permite criar, a mão ou a máquina, desenhos e figuras ornamentais em um tecido. Para bordar os desenhos, são utilizados diversos tipos de agulhas, linhas e moldes, de forma que os fios formem um desenho.

 “É como a trama da renda da terra,

Que a rendeira rebate e retorce e

pontilha os espinhos,

Na ânsia de endurecer a graça

petulante de uma traça,

no afã de alinhar mais o trocado

do ponto de filó,

e sai tão fina, tão delicada,

tão perfeita,

que vocês, meus irmãos do Sul,

mandam buscá-la aqui, na

barraquinha anônima das várzeas,

para ostentá-la, depois,

no meio do seu luxo…”

Renda da terra – Rachel de Queiroz

De 22 a 26 de agosto, essas e outras artesãs, além de marisqueiras, pescadores e mestres de cultura no Encontro Sesc Povos do Mar, no Sesc Iparana Hotel Ecológico. São mais de 170 comunidades litorâneas em uma programação que busca o fortalecimento da economia das comunidades, apostando na exposição e no intercâmbio de produtos sustentáveis que representam a cultura de cada local.

Serviço

Encontro Sesc Povos do Mar – 22/8 a 26/8

Encontro Sesc Herança Nativa – 26/8 a 29/8

Local: Sesc Iparana Hotel Ecológico (Rua José Alencar, nº 150 – Praia de Iparana – Caucaia-CE)

Informações e programação: http://www.sesc-ce.com.br/povos-do-mar-heranca-nativa/  ou 0800.275.5250