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O som da ancestralidade
O som da ancestralidade

Música, arte e ancestralidade marcam a trajetória do luthier Tércio Araripe. Como quem descobre um tesouro desapercebido por muitos, o artista chegou há mais de 15 anos na comunidade de Moita Redonda, em Cascavel, e encontrou cerca de 60 famílias envolvidas com o trabalho artesanal do barro. Essa herança dos povos indígenas originários, que é uma referência para o estado do Ceará, passou a fazer parte da vida do luthier, tornando-se um propósito.

“Quando você fala do barro, você está falando de uma força ancestral muito poderosa”, conta Tércio que desenvolve projetos como a Orquestra do Barro Grupo Uirapuru, oficinas e apresentações junto às pessoas da comunidade, incentivando o protagonismo, principalmente, de crianças, jovens e mulheres a partir do barro.

Entre acordes, notas e sonoridades que ecoam de instrumentos feitos de barro, Tércio se emociona com a tecnologia ancestral passada de geração em geração pelas famílias de Moita Redonda. “É muito forte o que tem nessa comunidade, isso aqui é um tesouro”. No acervo, uma gama de mais de 30 instrumentos diferentes desenvolvidos pelas mãos daqueles que ali vivem, unindo argila, água e todo o legado de um povo.

A valorização dessas raízes faz com que a história de Tércio Araripe esteja conectada também com as edições do Encontro Sesc Povos do Mar. Este ano, guiado por um movimento de transformações e mudanças, a proposta do luthier em sua participação segue por caminhos além mar. Em uma travessia que liga Brasil e África, como em tempos de outrora, a Orquestra de Barro com seus instrumentos únicos, irá se apresentar juntamente com artistas africanos, vindos de Guiné-Bissau e da Nigéria.

“Estamos construindo um material muito interessante, diferente e que vai ser lindo. Acredito que inclusive teremos a possibilidade de dar uma sequência para além do Encontro”, afirma. Esse novo capítulo conta com a sensibilidade, vivência e bagagem histórica do Prince George, Príncipe das Tribos de Wazobia, na Nigéria, que, em carta, fala sobre respeito e reverencia o legado do continente africano, assim como faz em sua arte. “Porque nossa mãe terra representa perdão, generosidade, compaixão, amor, paz, poder. E isso é chamado mãe e mãe significa – África”.

Prince George contempla os rituais e as crenças das civilizações africanas que estão presentes desde o berço da humanidade. Onde foi o início de tudo. “O ancestral da humanidade foi descoberto em nossa pátria mãe, muito do que foi feito neste mundo tem a participação do nosso povo que nunca foi mencionado”, declara.

Com um recado de amor e compaixão, a arte de Wazobia ganha novas perspectivas conectada à tradição indígena do barro. Um encontro de ancestralidades ligado aos Povos do Mar.