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Menino do Mangue
Menino do Mangue

Raley é o exemplo de que a luta pela preservação ambiental também é assunto de criança. Ele e outros filhos de artistas, ambientalistas e pescadores vão estar presentes no Espaço Infância e Adolescência, que integra pela primeira vez a programação Encontro Povos do Mar 

Raley tem nome de cometa, mas, na verdade, foi uma homenagem da família à famosa marca de motocicletas. Independentemente da referência, as duas comparações cabem perfeitamente ao menino levado, acelerado, falante e feliz, que adora a natureza e não abre mão de brincar no rio, no mangue, com os animais e com tudo que o cerca. O cenário parece até ser de outra cidade, talvez o interior de qualquer estado do Brasil, mas, na verdade, estamos em Fortaleza, mais precisamente em Sabiaguaba, bairro de preservação ambiental. 

Celso Raley Sá Barreto de Freitas, ou apenas Raley, é neto de Rusty de Sá Barreto e Sineide Crisóstomo. A história do casal, por si só, já renderia um livro. De origem pernambucana a família chegou à Sabiaguaba para abrir um bar de motocicletas. Deu certo! Mas foi justamente com o sucesso do bar que Rusty se sentiu incomodado. “Estava tudo muito bom, muito feliz, juntando sempre os amigos, os motociclistas, mas todo o lixo produzido era absorvido pelo mangue. Não era certo. Então decidimos fechar o bar”, explica o avô. 

A atitude foi extrema, mas necessária e de encontro às suas convicções. “Eu fiquei realmente sem saber o que fazer, mas nunca me arrependi da decisão”, confessa. Isso porque Rusty, assim como o neto, também passou sua infância no mangue. “Sou da terra de Chico Science”, orgulha-se. Quando decidiu acabar com o principal sustento da família, Rusty acreditava que a sua decisão pudesse sensibilizar as pessoas, os vizinhos e as próprias autoridades, principalmente pela questão do mangue, que, segundo ele, “é um ecossistema um pouco menosprezado”, embora seja um dos mais importantes do mundo. 

Morada e natureza

Após o encerramento das atividades do bar, as crianças começaram a interagir mais com Rusty, pedindo para que ele pudesse acompanhá-las até a mata. No entanto, Sabiaguaba não possui uma mata comum, e sim uma floresta de mangue. Pelo tempo de morada, de conhecer praticamente todos os detalhes do ambiente, ele passou a desenvolver atividades lúdicas e educativas com essa meninada toda. Surgiu, assim, o Projeto Educar Sabiaguaba, que depois virou o Projeto Educar para, finalmente, tornar-se o que conhecemos hoje: O Ecomuseu Natural do Mangue da Sabiaguaba.

E foi nesse ambiente cercado de beleza e natureza que Raley vive desde pequeno. Ao lado dos avós, primos, tios e amigos, o menino se acostumou a trocar ideias e experiências sobre a importância de cuidar do meio ambiente. De forma leve, mas cheio de sabedoria, Raley se diverte como toda criança, mas com uma convicção preciosa do nosso papel na preservação do planeta. Na imaginação criativa de menino, o mangue é o seu lar e, por isso, mas não só por isso, precisa ser preservado. “Viver na natureza é muito legal, aqui é muito rico, eu posso brincar, tomar banho de rio com meus amigos”, diz, feliz. Raley também adora morar em Sabiaguaba graças ao convívio com os animais – ele, aliás, quer ser veterinário quando crescer, pois “os bichos não fazem mal ao planeta”. Prodígio e levado, adora interagir com os gatos, caranguejos, sabiás e, principalmente, cachorros. Com respeito e admiração, todos convivem em plena harmonia. 

“A preocupação com o futuro do planeta é uma constante na vida de Raley. Nas palestras que costuma ministrar, sempre faz questão de destacar que ele e as outras crianças são a futura geração”, celebra a avó Sineide. E não, você não leu errado! Raley é palestrante! Começou a praticar a atividade-brincadeira, de forma espontânea, nas visitas dos grupos e escolas ao Ecomuseu, mas, com o tempo, tomou gosto pela coisa. Sua próxima empreitada vai ser no Encontro Povos do Mar, projeto idealizado pelo Sesc Ceará com o objetivo de promover a visibilidade e a valorização das comunidades litorâneas a partir de ações que envolvem, dentre outros eixos temáticos, sustentabilidade e meio ambiente.

 Meninos do cajueiro

Sob o olhar atento e afetuoso dos avós, o pequeno grande Raley criou, sozinho, a palestra “A Pele do Planeta”, tema que ele também irá abordar no Povos do Mar. Quando questionado sobre do que se trata, o menino é certeiro: “O planeta é como nosso corpo. Os cabelos, por exemplo, são as árvores. Quando vamos para a praia, usamos o protetor solar, né? Porque isso vai nos proteger. E o que protege a natureza é a camada de ozônio. Se a camada de ozônio não existir mais, o nosso planeta sofre e a gente adoece”, explica com sabedoria. E se ele está nervoso com a sua participação no Povos do Mar? “Não, só estou um pouco ansioso, mas depois que começa fica tudo mais suave”, diverte-se. 

Raley e outras crianças e adolescentes igualmente conscientes sobre o seu papel como agentes a favor da preservação ambiental vão ganhar um destaque especial no Povos do Mar. Eles vão estar juntos no Espaço Infância e Adolescência, que entra na programação pela primeira vez em 2019, para discutir ações práticas de sustentabilidade, tudo de forma lúdica e leve, com gostinho de infância. 

Essas crianças, na verdade, são “crias” do evento. Raley e seus amigos vão todos os anos, acompanhados sempre dos familiares que participam do encontro. De forma espontânea, essa turminha passou a se encontrar no cajueiro do Sesc Iparana Hotel Ecológico. Entre brincadeiras e momentos de descontração, os meninos e meninas também começaram a discutir sobre o meio-ambiente, provando que esse não é um assunto só de gente grande. O planeta, claro, agradece!