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Calungueiro: sobrenome de três gerações
Calungueiro: sobrenome de três gerações

A arte de manusear a calunga (também conhecida como mamulengo, fantoche, Cassimiro Coco, babau ou João Redondo, a depender do seu local de atuação) adentrou a rotina de Marquinhos a partir de seu pai, Gilberto. Aos 77 anos de idade, Gilberto Calungueiro é reconhecido oficialmente como Mestre da Cultura do Estado e Marquinhos, um dos seus sete filhos, foi o único a seguir o ofício do pai. Bom, até bem pouco tempo atrás.

 

“Um dia nós vamos (morrer) e temos que deixar a cultura com outras pessoas. Meu filho também está pegando a tradição e isso é muito gratificante”, orgulha-se Marquinhos Calungueiro ao falar de Miguel, 7 anos. “O teatro de bonecos encanta crianças, idosos, todo o público do Brasil que você imagine e é uma maravilha ele estar na minha família”, completa ele, nascido e criado em Icapuí (litoral leste do Ceará).

 

De acordo com Marquinhos, a paixão de Gilberto Calungueiro pelo teatro de bonecos vem de criança, quando seu pai assistiu pela primeira vez uma apresentação e, na ocasião, se encantou com um dos personagens. “Era o Baltazar, um negrinho que brigava, dançava com as moças… Aí ele se apaixonou”, descreve. A paixão de Gilberto foi tamanha que, até hoje, ele possui uma calunga com esse nome, “que já tem 61 anos”, sendo o carro-chefe de suas apresentações pelo Estado afora.

 

“O mestre jamais mostrava o boneco pra ninguém, que era pra não descobrirem o segredo. Porque, naquela época, as pessoas pensavam que o boneco era vivo. Isso há uns 30, 40 anos… Aí eu era muito sapeca e pegava escondido. Com 8 anos, comecei a andar mais ele (carregando a mala do pai)”, relembra. “Eu via o pessoal achar graça, aí fiquei curioso e acabei vendo um meio de vida pra mim”, completa Marquinhos. 

 

As calungas de Marquinhos e Gilberto, confeccionadas em madeiras diversas que vão da umburana à timbaúva e ao murungu, já atravessaram as fronteiras do Ceará e chegaram a outras tantas cidades do Brasil. A trajetória do veterano mestre, no entanto, encontra-se devidamente registrada em livro-reportagem (Gilberto Calungueiro: Se esse boneco falasse/ 2019), escrito pelo jornalista e conterrâneo dos dois, Jadiel Lima. 

 

Em Icapuí, as três gerações de calungueiros sempre marcam presença em eventos ao longo do ano, como festas juninas, Dia da Criança nas escolas, feiras literárias, Dia do Servidor Público, Natal, entre outros. Durante a celebração dos 10 anos do Encontro Sesc Povos do Mar, de 6 a 11 de dezembro, mestre Gilberto Calungueiro, o filho Marquinhos e o neto Miguel serão alguns dos destaques do Festival de Teatro de Bonecos, que contará ainda com a presença de convidados e outros nomes da área.

 

“Vai ser maravilhoso. Já criamos aqui uma ideia, meu filho já criou outra ideia… Rapaz, esse meu menino é demais! Ele já criou um outro espetáculo pra apresentar! Mas esse encontro aí no Sesc, ele é muito importante porque eu aprendo muito e repasso para outras pessoas”, finaliza Marquinhos Calungueiro.  

 

Por conta da pandemia, as atividades no Sesc Iparana Hotel Ecológico (sem visitação) serão adaptadas para que o público possa acompanhar as transmissões pelas redes sociais e canal Sesc no Youtube. Após o encerramento do X Encontro Sesc Povos do Mar, será iniciado o VI Encontro Sesc Herança Nativa com a presença de quilombolas, povos indígenas e ciganos, de 11 a 15 de dezembro. O projeto é realizado pelo Sesc, instituição do Sistema Fecomércio, criado e mantido pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo do Estado do Ceará.