Feita com madeira de Imburana, Pinho ou Pau d´Arco, a rabeca é o violino do sertão: simples, intuitiva e alegre como o só povo do Ceará sabe ser. No Encontro Herança Nativa, realizado pela quarta vez pelo Sesc, instituição que integra o Sistema Fecomércio, rabequeiros das regiões do Cariri, Inhamuns e Crateús se encontraram para tocar forró, xote, samba, frevo, marcha e toda harmonia que conseguem tirar das quatro cordas da rabeca.
Na manhã da segunda-feira 27/8 o Rio Ceará acordou mais festivo, pois o conjunto de rabequeiros tocava em um dos barcos do projeto Conversas Flutuantes, parte da programação do Encontro. Enquanto as embarcações subiam às margens do mangue, Manoel Lopes, de Tauá; Luis Gonçalves e Antônio Lourenço, de Quiterianópolis; Antônio Cândido da Silva, o Mestre Totó do violino, de Novo Oriente e Jean Alex, da cidade de Juazeiro do Norte iam tocando juntos.
Na plateia, estavam estudantes, idosos e outros mestres da cultura, como Francisco Ferreira, brincante do boi de reisado em Quixadá e Mestre Piauí, de Quixeramobim, que criou o Boi Estrela há 67 anos e, em 2005, foi diplomado mestre da cultura.“Botaram esse apelido em mim”, diz ele.
mí, ré, lá e sol
Assim como muitos rabequeiros, Antônio Lourenço é um músico autodidata, aprendeu a tocar apenas com seu dom e o ouvido apurado. As cordas da rabeca não têm escalas e as músicas não têm partitura. Para afinar a harmonia, os maestros apuram o ouvido e deslizam o arco nas quatro cordas: mi, ré, lá e sol. O instrumento, ele diz, “é o mais difícil do mundo, tem só quatro cordinhas e o cabra toca forró de todo jeito”.
“Nem a ler eu aprendi, assino meu nome à força, mas, só na memória, eu pegava a música e tocava ela todinha. Eu acho muito bom tocar xote, samba, frevo, marcha, mas se mandar tocar um choro, eu toco também”, diz Antônio, que também é agricultor na Região dos Inhamuns, onde mora.
Começou a tocar rabeca 65 anos atrás, época em que toda festa da igreja tinha rabeca e sanfona para animar o povo. Hoje, na sua terra, os rabequeiros ainda tocam nos festejos tradicionais, como os reisado e as danças de São Gonçalo.
Na terça-feira (28), Mestre Totó do violino tocou na sua rabeca em uma das apresentações socioculturais do Encontro Herança Nativa, no Sesc Iparana Hotel Ecológico. Começou ainda na infância, mas durante muitos anos, deixou o instrumento de lado para tocar em bandas. No encontro do Sesc, empunhou novamente sua rabeca para mostrar essa cultura. “Não pode parar, quero apresentar enquanto vida eu tiver. Vim para esse evento e quero vir mais, se Deus Quiser”, diz Mestre Totó.
O Encontro Povos do Mar é realizado pelo Sesc, instituição do Sistema Fecomércio, criado e mantido pelos empresários do comércio de bens, serviços e turismo do Estado do Ceará
Encontro Herança Nativa
Data: 26 a 29 de agosto
Local: Sesc Iparana Hotel Ecológico (Rua José Alencar, nº 150 – Praia de Iparana – Caucaia-CE)
Informações e programação: http://www.sesc-ce.com.br/povos-do-mar-heranca-nativa/ ou 0800.275.5250