Uma vida ligada ao mar. Nascido Francisco José do Nascimento no dia 15 de abril de 1839 em Canoa Quebrada, litoral leste do Ceará, o garoto, filho de pescador, ficou conhecido por muito anos como Chico da Matilde, em referência à sua mãe, a rendeira Matilde Maria da Conceição. O epíteto Dragão do Mar só surgiu mais tarde, junto à conquista do movimento abolicionista da província alencarina.
Uma vida ligada ao mar. Nascido Francisco José do Nascimento no dia 15 de abril de 1839 em Canoa Quebrada, litoral leste do Ceará, o garoto, filho de pescador, ficou conhecido por muito anos como Chico da Matilde, em referência à sua mãe, a rendeira Matilde Maria da Conceição. O epíteto Dragão do Mar só surgiu mais tarde, junto à conquista do movimento abolicionista da província alencarina.
Tendo que trabalhar muito cedo, foi no mar que encontrou sustentação. Começou como menino de recados, depois chefe dos catraieiros (condutores de bote), viveu a construção do Porto de Fortaleza e se tornou prático da Capitania dos Portos. Presenciou o tráfico negreiro de perto e ajudou a mudar o rumo do mercado escravocrata que acontecia na até então Praia do Peixe, hoje Praia de Iracema.
Da beira do mar, os trabalhadores gritavam “no Ceará não se embarcam mais escravos”. A resistência ficou marcada na história a partir da deflagração da greve dos trabalhadores do mar, que paralisaram o porto de Fortaleza em janeiro de 1881, proibindo o embarque de negros em navios com destino a outras províncias. Este era o terceiro levante em busca da liberdade. Sem o apoio da mão de obra e o transporte das jangadas, os traficantes ficaram impossibilitados de levar os escravos da praia até a embarcação. Era o fim de um regime escravagista pelas mãos do povo.
Nas palavras do professor e historiador, Gilmar de Carvalho, a importância do Chico da Matilde vem do fato dele ser um afrodescendente que lutou no meio das elites, tendo se consagrado como um dos principais artífices do processo abolicionista. “Ele se movia entre essas forças com muita desenvoltura e construiu o seu lugar. O que faz dele uma pessoa ímpar no meio dos letrados de Fortaleza, brancos, que fizeram um movimento importante, mas muito marcado pelo caráter filantrópico. Enquanto isso, o Dragão do Mar entra como o herói da negritude que vai querer lutar para conseguir a liberdade dos iguais a ele, dos que vieram da África, que padeceram tantos tormentos”, relata.
À época, desde meados de 1870, diversos movimentos contra a escravidão ganhavam força entre lideranças da elite econômica da província como a “Sociedade Perseverança e Porvir”, a “Sociedade Cearense Libertadora” e o “Centro Abolicionista 25 de dezembro”. Entre comerciantes, filhos de portugueses e oficiais públicos que participavam desses grupos estava ali um negro, Chico da Matilde, que se tornou o elo entre o pensamento abolicionista e os povos do mar.
Com o porto fechado para o envio dos cativos e os ideais libertários se espalhando pela província, ficou insustentável a manutenção do mercado de escravos, acarretando no fim da escravidão no Ceará em 1884, quatro antes do restante do Brasil. Esse pioneirismo na luta e conquista da abolição fez com que o estado ganhasse o título de “Terra da Luz”.
O feito ganhou repercussão e gerou um convite dos abolicionistas do Rio de Janeiro: Chico da Matilde viajou para a capital do Império, levando consigo no navio “Espírito Santo”, o mesmo que impedira tantas vezes de embarcar escravos, a jangada “Liberdade” como símbolo da luta cearense pelo fim da escravatura. Lá desfilou nos braços do povo e ganhou festas em sua homenagem, mostrando a força da resistência nordestina, para então cravar seu nome na história como o maior herói popular do abolicionismo, intitulado de Dragão do Mar.
Uma vida marcada por luta e coragem que está registrada no Livro dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília.
180 anos depois, para Gilmar de Carvalho, é importante reforçar o significado que o Dragão do Mar tem para a história. “Ele representa uma ideia de Ceará libertário, que demonstra independência e que continua sendo um lugar de rebeldia, mesmo contida, mas nós somos um povo inquieto e que sabe dizer não”, conclui.
“A importância do Dragão do Mar é muito grande e aumenta com o tempo porque o Chico da Matilde, Francisco Nascimento, era um afrodescendente, o que faz dele uma pessoa ímpar no meio dos letrados de Fortaleza, brancos, que fizeram um movimento importante, mas muito marcado pelo caráter filantrópico. Enquanto isso, o Dragão do Mar entra como o herói da negritude que vai querer lutar para conseguir a liberdade dos iguais a ele, dos que vieram da África, que padeceram tantos tormentos, tantos açoites e tantos maus tratos por parte dos nossos fazendeiros, donos de terra.
Essa importância vem daí, da unicidade, da gente ter um herói que é afrodescendente, que não é das elites, e mesmo assim está no quadro ‘Fortaleza Liberta*’, entrando no imaginário popular como sendo um dos principais artífices desse processo abolicionista no Ceará.
Ele viveu em um período de intensa agitação, esse período da abolição, que de certo modo está muito ligado ao período da República. E o quadro cearense era esse de latifundiários, pessoas muito apegadas à terra e que não estavam querendo mudanças. Então do outro lado, em contrapartida, existia essa elite letrada, iluminista, que concordava com as pautas mais vanguardistas e não queriam a escravatura.
Era realmente uma estrutura ultrapassada, o Brasil foi um dos últimos países do mundo a acabar com a escravatura. Então o Dragão do Mar se movia entre essas forças com muita desenvoltura e construiu o seu lugar, sabendo marcar bem o seu papel na história.
O Chico da Matilde entra numa ideia de Ceara Libertário que tem relação com os dias atuais. É importante reforçar essa memória de resistência e bravura do povo cearense quando o cenário político e social assim necessita. O Ceará continua sendo um lugar de rebeldia, claro que uma rebeldia contida, mas nós somos um povo inquieto e que sabe dizer não”.
Gilmar de Carvalho, jornalista, professor e historiador
*“Fortaleza Liberta”, de José Irineu de Sousa, obra que retrata a sessão da Assembleia Provincial do Ceará, em 1883, que definiu a libertação dos escravos em Fortaleza. Acervo do Museu do Ceará.
Com o apoio dos pescadores e barqueiros da Barra do Ceará, como o seu Alberto, o Sistema Fecomércio, por meio do Sesc, realiza um projeto de troca de vivências pelas águas do Rio Ceará. Trata-se do Conversas Flutuantes, levantando questões de preservação ambiental e de resgate de memórias, com uma edição especial em homenagem aos 180 anos do Chico da Matilde.
“A presença do Sesc aqui tem sido de suma importância, até como sobrevida para os pescadores e boa parte do povo da Barra do Ceará. O projeto deu visibilidade novamente ao bairro mais antigo de Fortaleza. É gratificante receber centenas de famílias, gente que se emociona porque não conhecia o lugar”, relata o dono do tradicional restaurante Albertu’s.
Os participantes desfrutam da paisagem e dialogam com a história do bairro que é um patrimônio histórico e ambiental e marco zero da cidade da capital cearense. A vivência náutica aproxima o público da fauna e da flora locais, que registra o encontro do rio com o mar.
Para navegar pelas histórias que envolvem o Chico da Matilde, o projeto conta com sete barcos, cada um com um convidado especial que abordará uma temática, entre eles artistas, professores, pesquisadores e líderes indígenas.
Sobre a homenagem ao Chico da Matilde, seu Alberto diz que não podia ficar de fora dessa festa. “Esse homem libertário, símbolo dos pescadores, que deu a vida por uma causa, tem tudo a ver com os povos ribeirinhos e que o Sesc abraça há muitos anos”.
Temáticas:
O Dragão do Mar na Terra da Luz – Naigleison Santiago
O Herói Jangadeiro – Guga Cazagrande
Estuário do Rio Ceará, ameaças e resistências – Marcos Lupi
O movimento indígena e as lutas pela liberdade tendo inspiração no Dragão do Mar – Cacique João Venâncio e Pajé Luis Caboco
Canções de guerra, quem sabe canções de mar – Calé Alencar
Dragão do Mar: contos, cantos e lutas – Patrícia Matos e Biro Araújo
Dragão do Mar na contemporaneidade – Everthon Damasceno
Serviço
Data: 15/04
Local: Marco Zero – Barra do Ceará
Horário: 8h30 e 14h
Em 1881, o líder dos trabalhadores do Mar, Chico da Matilde, lutava pela liberdade daqueles que eram escravizados na província cearense. Hoje, 138 anos depois, pescadores como Elias Silva, da Barra do Ceará, e o Possidônio Soares, presidente da associação de pescadores da Colônia Z-8, da praia do Mucuripe, continuam seguindo o exemplo desse herói, mas a luta é pela valorização daqueles que tiram do mar o sustento, os próprios pescadores.
“Cada um de nós sozinho somos uma gota d’água ou um grão de areia, porém juntos nos transformamos em um imenso país e num infinito oceano”. A fala do senhor Possidônio, um líder entre os jangadeiros, carrega a esperança de se transformar uma realidade a partir da união dos povos, assim como no movimento abolicionista é necessário resistir.
Para manter as jangadas navegando, eles contam que não exige apenas força física, mas resistência e coragem. Entre tantas dificuldades, conseguir manter o lugar na faixa de praia para desenvolver suas atividades, assim como conquistas direitos sociais, são algumas enfrentadas por eles.
Tendo o mar como horizonte numa rotina embarcada em jangadas ao desejo das ondas e do vento, Elias tem a atividade artesanal da pesca, que aprendeu desde garoto, como meio de sobrevivência e alicerce de toda a família. “Nunca foi nada fácil para o nosso povo. Vivemos mais no mar do que em casa para trazer o pão de cada dia. A nossa luta continua todo dia e eu me espelho no Dragão que conseguiu ajudar tanta gente e mudou a história na época dele”, relata.
A revolta do Chico da Matilde colocou o jangadeiro como herói nacional e a jangada “Liberdade” como símbolo de uma nova era. Para os Elias, Antônios, Possidônios, Josés e Marias que vivem do mar, o evento do Sesc é uma oportunidade de dar visibilidade aos pescadores, em memória a um personagem histórico que merece ser celebrado. “Tenho orgulho das minhas origens como pescador. A bravura do Dragão do Mar jamais será esquecida, ela tem que ser lembrada, temos que fazer Fortaleza sentir esse momento”, afirma Possidônio.
Tudo começou com um presente para uma amiga, eram palavras e sentimentos em formato de loa de maracatu, intitulada Dragão do Mar. A partir de então, o caminho do músico e compositor, Calé Alencar, se abriu para uma viagem pela vida do líder abolicionista, Chico da Matilde, o Dragão do Mar, e também pelas próprias raízes do músico.
Segurando uma calunga em uma das mãos e vestido com os trajes a rigor, pronto para uma apresentação de maracatu, Calé narra a relação da sua carreira com a temática de luta e resistência do Dragão do Mar. “A história do abolicionismo tem relação com várias outras, tudo está interligado. Do mergulho na minha essência, conheci mais sobre meus antepassados, sobretudo sobre a família do meu pai que era negro. Então, fui trazendo a história do Ceará para o meu trabalho, para o maracatu e para outras canções temáticas”, relata o artista.
Com uma trajetória formada por encontros e transformações, o artista cearense viu no trecho “Canções de guerra, quem sabe canções de mar” da música de Caetano Veloso, “Soy loco por ti América”, uma forma de falar da relação do mar com as conquistas cearenses e com os temas atuais de liberdade política, social e cultural. Junto de Calé, sobem ao palco do Sesc, na Praia de Iracema, os artistas Edmar Gonçalves, Cyda Olímpio e Lorena Nunes para cantar um repertório abrangente, indo de canções autorais a sucessos da música popular brasileira. Quatro vozes para entoar o amor como a forma mais revolucionária de atitude.
Um dos compositores de “Ceará Bonito”, Edmar vê na arte uma das maneiras mais claras de se expressar, de contribuir com a memória de um povo e de questionamentos. “O papel do Dragão do Mar no fim da escravatura é algo que nos emociona e serve de exemplo. Assim como a característica de resistência dos povos indígenas. Nossa identificação vem desses guerreiros que estamos lembrando e que nos inspiram a seguir em frente em momentos delicados da história”.
E o que é preciso para mudar o mundo? Para Cyda Olímpio é preciso conhecer o passado para compreender o presente e buscar um futuro melhor. Daí a cantora ressalta a importância de rememorar, celebrar e divulgar o movimento revolucionário do qual Dragão do Mar fez parte. “Tem gente que não sabe nem quem era Dragão do Mar e qual foi a história dele. Um herói da nossa terra, que mudou a nossa realidade e a história do mundo também. Porque um abolicionista, muda o mundo. É a história de um povo que não foi mais escravizado aqui porque pessoas como o Dragão lutaram”, explica.
Todas essas forças juntas formam as canções de guerra, que não são exatamente de guerra, mas de guerreiros. Cada um faz parte de uma lacuna para se formar um todo, em termos de apresentação artística, complementam-se. Um presente de cearenses para homenagear o cearense Chico da Matilde, o herói da pátria, Dragão do Mar.
180 ANOS DO DRAGÃO DO MAR
Show em Homenagem ao Dragão do Mar “Canções de Guerra, quem sabe Canções do Mar”
Calé Alencar, Cyda Olímpio, Edmar Gonçalves e Lorena Nunes
Data: 14/04 (domingo)
Local: Largo dos Tremembés – Praia de Iracema
Horário: 19h
Sesc Ceará realiza homenagem, neste domingo (28/04), com manifestações culturais e show dos artistas cearenses Calé Alencar, Cyda Olimpio, Edmar Gonçalves e Lorena Nunes na Praia de Iracema
Com o título “Canções de Guerra, quem sabe Canções do Mar”, o Sistema Fecomércio, por meio do Serviço Social do Comércio do Ceará (Sesc-CE) celebra os 180 anos de resistência e luta pela liberdade do Dragão do Mar. Devido às fortes chuvas na capital cearense dia 14/04, o evento em homenagem ao herói da pátria foi adiado e acontecerá no próximo domingo, dia 28 de abril. A programação conta com apresentações de grupos de reisado, coco e toré, além de cortejo dos maracatus, na Praia de Iracema, em Fortaleza. No total, são 14 grupos, reunindo cerca de 700 brincantes para homenagear o líder abolicionista, e que anunciam o show de quatro artistas da música popular cearense: Calé Alencar, Edmar Gonçalves, Cyda Olímpio e Lorena Nunes.
O Sistema Fecomércio, além de abraçar a memória do povo cearense, realiza uma programação de valorização dos artistas locais. Os grupos que se apresentam são aqueles que historicamente cantam o Dragão do Mar, sobretudo o maracatu, que tem suas loas de homenagem à abolição e de valorização da negritude. Como forma de celebrar os povos e trabalhadores do mar, o evento conta com uma navegação dos jangadeiros que partem da Vila do Mar, na Barra do Ceará, às 15h, em direção à Praia de Iracema, onde irão atracar suas jangadas, símbolo da abolição eternizado pelo Chico da Matilde.
Nos dias atuais – em que estão em pauta questões como etnicidade, direitos sociais e manutenção das culturas tradicionais – e diante da importância histórica de difundir as personalidades, a memória, os feitos e o papel do Ceará no processo abolicionista brasileiro, o Sistema Fecomércio, por meio do Sesc-CE, promove a história cearense de forma educativa ao desenvolver esse espetáculo, reverenciando os heróis e as referências de identidade da Terra da Luz.
Conversas Flutuantes
No dia 15 de abril, data em que marcou os exatos 180 anos de nascimento, o Sesc-CE promoveu a troca de saberes através do projeto Sesc Conversas Flutuantes, no marco zero de Fortaleza, localizado na Barra do Ceará. O projeto realiza permanentemente a vivência náutica com ações socioeducativas na área do Rio Ceará, incentivando a troca de experiências dos convidados. Há mais de 10 anos, a instituição realiza um trabalho sistêmico nos 573 quilômetros do litoral cearense contribuindo para a valorização das tradições. A ação constrói uma interface entre as diversas formas de ser e de existir dos povos do mar, que por meio do jangadeiro e da rendeira, se tornaram símbolos icônicos da cultura do Estado.
Sobre Dragão do Mar
Foi em terras alencarinas, no mar de Iracema, que a história do tráfico interno de escravos do império brasileiro mudou de rumo em meados de 1881. Sob a liderança do cearense, Francisco José do Nascimento, também chamado como Chico da Matilde, os trabalhadores do mar paralisaram as atividades em recusa à embarcação de qualquer negro como mercadoria nos navios, fechando o porto de Fortaleza. O movimento abolicionista ganhou força desde então e fez com que um dos líderes, Chico da Matilde, entrasse para a história como Dragão do Mar, liderança fundamental para tornar o Ceará a província pioneira a dar fim à escravatura. Figura histórica, o cearense é reconhecido nacionalmente como herói da pátria, presente no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves.
SERVIÇO:
180 ANOS DO DRAGÃO DO MAR
Data: 28/04
Local: Praia de Iracema em frente ao Bar do Mincharia
Horário: De 15h às 21h
Programação
15h – Saída dos Jangadeiros
16h – Apresentações Culturais
(Reisados, Torés e Torém, Coco da Vila, Quilombolas, Afoxé e Maracaturs)
19h – Show em Homenagem ao Dragão do Mar “Canções de Guerra, quem sabe Canções do Mar”
Calé Alencar, Cyda Olímpio, Edmar Gonçalves e Lorena Nunes
Mais informações: (85) 3452.9090
Naquele dia, pela primeira vez, o Porto de Fortaleza não embarcou negros escravizados para serem vendidos nas fazendas do Sul. Em 27 de janeiro de 1881, o líder negro Francisco José do Nascimento mudou o rumo da História.
O decreto não veio do regente da Província, mas da greve dos jangadeiros abolicionistas, liderados por ele, o Dragão do Mar. Ao gritar “no porto do Ceará não se embarcam mais escravos”, lema do movimento abolicionista local, Dragão do Mar rasgou o silêncio e ecoou para sempre.
O líder dos trabalhadores do mar ensinou sobre coragem, resistência e liberdade, que renascem sempre que se reverencia as etnias ancestrais do Brasil. Sempre que se reconhece a importância dos povos discriminados: os negros, os índios e tantos outros, como tem feito o Projeto Sesc Povos do Mar há nove anos.
“Ele ficou na História, a História está viva e nós estamos aqui”, se apresenta a líder Margarida Tapeba. Com o toré, a dança sagrada dos indígenas, seu povo também vai agradecer ao Dragão do Mar, na comemoração de 180 anos de seu nascimento.
“A gente sabe que não havia só escravos negros, havia também os escravos indígenas. O Brasil é um país pluriétnico, são vários povos com sua identidade própria, sua cultura e, juntando tudo isso, é lindo de se ver”, diz ela.
Resistir, não deixar morrer e dar força aos outros, tal como Dragão do Mar fez pelas pessoas escravizadas um século atrás. Hoje, simbolicamente, o Reisado Nossa Senhora Aparecida continua mantendo viva a cultura negra. “Essa é resistência do que Dragão do Mar traz pra gente”, diz o mestre Roberto Vieira.
O grupo também participa das homenagens do Sesc no dia 14 de abril, assim como o Reisado Nossa Senhora da Saúde, fundado há quinze anos por filhos e netos de pescadores e cujo folguedo lembra os negros trazidos da África, como explica Marcos Antônio, um de seus integrantes.
A corte do Maracatu Az de Ouro também dança em homenagem ao Dragão do Mar. Personagem de cantigas de loa, o jangadeiro abolicionista é símbolo da luta por igualdade racial. “O Maracatu eleva a negritude e Dragão do Mar tinha essa aproximação por ser um jangadeiro negro, vários Maracatus já fizeram homenagem a ele”, diz Marcos Gomes, representante do Maracatu Az de Ouro.